Era Véspera de seu aniversário, a angústia de se ver um ano mais velho em idade, e um ano a mais atrasado de vida, de planos e de sonhos lhe fazia ouvir aquelas músicas que ficavam guardadas para momentos como esse; aquelas que lhe fazem sentir muito pior do que já está, mas por ser tão masoquista, aquela dor advinda dos tons melancólicos lhe fazia se sentir melhor pela sensação de estar pior. Seu quarto escuro combinava com os tons pintados de sua vida.
O céu sem estrelas era só mais um sinal, do mal necessário que se aproximava, já que nem as estrelas que ele tanto admirava lhe faziam companhia aquela noite.
Apesar de tudo, quis se apegar às crenças, afinal, se tinha que acreditar em algo, aquele seria o melhor momento; fez uma promessa, três na verdade e jurou guardar segredo, até mesmo se por uma força cósmica elas vinhessem a se realizar, coisa que imaginou ser quase impossível, já que seu pessimismo lhe bloqueava toda autoestima que pudesse surgir.
Deitou-se mais cedo do que de costume, estar acordado só lhe fazia sofrer sem causa, o que já lhe era confuso demais. Ele acordava já esperando esse momento, o seu e apenas seu momento, em que podia refletir, chorar, rir, que nada lhe invadiria. A sensação de ter um mundo só seu era a ilusão que ele vivia em todas as 24 horas do dia. Porém, até os sonhos teimavam em não vim, em não o agradar, só podia ser um complô.
Todo ano era a mesma coisa.
Já que forçando para ter sono não funcionou, refletir sobre o dia que se passou e os dias que supostamente se passarão era a melhor solução.
A pressão da vida, o tempo que insisti em não parar, a competitividade nos simples atos, o falso sorriso diário, a correria, a inquietude, a desilusão do amor passado, e o agradecimento por nunca ter se concretizado, pois assim nunca acabará, será eterno; os sonhos em que insistem em ser apenas sonhados, os planos frustrados, o destino que como uma maré forte lhe leva ao lado contrário daquele que almeja chegar, o calor do mundo, o frio de seu corpo e coração, os lábios que querem ser beijados, o sentir de "um embaraço de pernas, uma união de barrigas, um breve tremor de artérias, uma confusão de bocas, uma batalha de veias, um reboliço de ancas".
O relógio se aproxima da meia noite, indicando mais um término de dia que leva consigo uma parte de sua juventude, e lhe insere o peso da responsabilidade que a maturidade lhe traz. A música acaba, os olhos pesam, o futuro lhe chama para um mundo onde todos se dizem SER e ele apenas está sendo. Bye bye velhos anos.
x.o.x.o Fah. Vasconcelos