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Você vive se inferiorizando por não conseguir atingir os seus vaidosos ideais 
e sempre escolhe alguém que terá a terrível tarefa de fazê-lo sentir-se melhor. 
Tortura essa pessoa para que ela lhe dê uma exaustiva atenção, 
a mesma que você se nega.
Luta para ser o dono absoluto do outro, 
como se o fato de gostar lhe desse esse direito. 
E no final, descobrimos que só possuímos a nós mesmos.


Penso em não saber
do teu jeito
do teu tato
dos olhos que te perturbam
e te chamam
pro lado que não é nosso

Assim talvez eu respire
sem medo
em tempo certo
como menino feliz
e vida!
sem amarras
nessas dúvidas
infernais
que saem não sei de onde
do meu ponto
do meu infinito
de querer ser seu
pra todo nosso.

                Andre Mans



Finalmente se aproximava a noite de sua sexta-feira insensantemente cansativa, como ele a desejara, a liberdade, a aventura, a companhia imensurável das pessoas que amava , parecia tudo tão bom quando fugia da realidade cotidiana de estudos e responsabilidades, para ser dar o prazer de ser ele mesmo. Sem censuras, apenas ele, em sintonia com a lua, a noite, a magia do momento. Eram dias como esse que lhe fazia renascer aquela nítida sensação de vividez.

Procura a melhor roupa em seu guarda-roupa, se produz, dança sozinho em frente o espelho, ensaiando as batidas da música com seu mexer meio desingonçado, mas que no momento certo deveriam pelo menos aparentar razoabilidade com o que é proposto.

O próximo passo de sua rotina bastante metódica para que tudo saia perfeito, é o incentivador de sua descontração, o vinho guardado a meses, além de bastante sutil e suave, lhe trazia uma sensação um tanto quanto alucinógena de bem-estar, sem excessos, apenas o suficiente para que dance e se divirta sem vergonha de uma sociedade que julga e critica o tempo todo. Já lhe bastava ser alvo das atenções da alta classe quando vestia sua roupa social e representava o Estado cinco dias na semana e fingia ser aquilo que não mais desejava se tornar.

Então parte.

A festa está linda, pessoas agradáveis, sorrisos espontâneos, gestos sem controle, playlist variada e de boa qualidade. Feito.

Porque então ele não se sentia bem e confortável com o momento? Porque algo insistia em lhe tornar um estranho no paraíso? Talvez porque sempre abominou as relações pessoais serem apenas baseadas em um jogo de falsas aparências. E ele aceitou jogar, deveria ir até o fim, ganhando ou perdendo. O fato é que nunca ganhou nesse jogo, por isso já espera pelo fim, pela simples previsibilidade do Game Over.

Tão inocente, ele acreditava que no alge da festa, com a música perfeita como trilha sonora, um alguém olharia para ele, alí, sentado, distraído vendo a multidão dançar como se fosse a última vez, e enxergaria sua doce áurea, sentiria uma conectividade, se aproximaria, sem medo da reação que isso fosse causar, e olharia seus olhos castanhos, sorriria e ele sorriria de volta, sem graça, mas em resplendor. O momento, o feeling, a troca de olhares, a conversa inteligente, as vozes ritimadas, os lábios, o toque, o arrepio, o cheiro...

Sua tímidez lhe travava os músculos, seu Ego controlava a mente, nunca soube demonstrar interesse, provelmente seu superego também estava envolvido nessa conspiração que não lhe permitia se abrir ao mundo, consequência de tudo, ele sofria calado, em seu pequeno grande mundo, se refugiando assim do medo da solidão que insistia em lhe assombrar todas as noites. Por dentro chorava, por fora falava sorrindo, para não ser vítima, nem merecedor de pena e compaixão daqueles que conseguiram aquilo que ele tanto almeja...somebody to love.

"É tão difícil falar e dizer coisas que não podem ser ditas. É tão silencioso. Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós dois? Dificílimo contar. Olhei pra você fixamente por instantes. Tais momentos são meu segredo. Houve o que se chama de comunhão perfeita. Eu chamo isto de estado agudo de felicidade."
Clarice Lispector


         
          Escrever me tornou tão difícil quanto o ato de socializar. Não que eu seja uma pessoa anti-social, apenas sou tímido ao ponto de ter aprendido a ter-me como a única companhia. Muito insano e insensato, EU SEI! Mas prefiro ficar só, do que me frustrar de alguma forma, porque odeio criar expectativas em cima de algo ou alguém e saber que nunca ninguém irá suprí-las por completo.
          Enfim, mas não é só por isso que abdiquei desse prazer imensurável de escrever, a falta de tempo tem sido um grande problema. Sofri uma reestruturação de vida e um consequente consumo maior de tempo nesse ano. Bem ou mal alguma mudanças são necessárias eu diria. Tem me feito bem, estou mais centrado, focado, amadurecido, porém, enquanto as confusão mentais sobre a vida amorosa e profissional, ah! Isso é uma constante. "Tornei-me uma questão para mim mesmo"
          Alguns dizem que com tanta mudança me tornei meio amargo, mas sem o amargo o doce não é tão doce, certo? Gosto de ser desvendado, e sei que posso valer a pena com esse meu lado 'doce' de ser.
          Estou deixando as coisas acontecerem nesse momento, porque aprendi que por mais que você planeje todos os mínimos detalhes do que almeja (um mal de nós virginianos), a vida sempre dá um jeito de mudar seus planos. Por isso, chega de dramas de telenovelas mexicanas. Estou vivendo... e como esse ato que exercemos todos os dias de forma tácita é bom quando nos permitimos viver da melhor forma que nos cabe; é saber ser livre, ouvir e falar sem medo de represalhas, ou medo de algum tipo de censura, principalmente aquele que nós mesmos colocamos em nossos atos.
          É hora de dizer adeus às inconstâncias, virar o jogo, encontrar em si a própria salvação, não dependemos de uma mera compaixão de ninguém para amarmos. Não somos o meio para que alguém alcance o seu fim, afinal, coisas são simples meios; pessoas nunca são simples meios- são, acima de tudo, fins em si mesmos. Não se cobre tanto (pelo menos não no final de semana - brincadeira ). Viva sem precisar de desculpas, nem perdões e arrependimentos. Busque a felicidade e o seu final feliz apenas seguindo em frente, porque com o tempo, todos aqueles finais tristes se tornam alegres. O final triste é só para o autor parar de contar a história. Mas ela continua. Só não é contada.